quarta-feira, 14 de abril de 2010

Padre Motard

PADRE MOTARD - Brevemente o documentário na RTP 2 - E também neste blog.
Estas fotografias foram realizadas no dia do motociclista no Montijo, Portugal, em simultâneo com imagens em video para um documentário que conta uma história pouco comum, a de um padre católico que tem a particularidade de ser motard, (motociclista) destes de frequentar concentrações e vestir indumentárias próprias dos amantes das duas rodas, o que não é muito convencional no meio eclisiástico.
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O José Fernando nasceu em uma pequena aldeia no Fundão, na Serra da Estrela. Desde muito jovem sentia-se atraído pelos motores e pelas motos em particular, e este gosto o acompanhou mesmo após ter se ordenado padre.
O padre José Fernando é conhecido entre seus companheiros de motos,como o Padre motard, alguém muito parecido com eles próprios. Não que isto o desabone ou prejudique o seu papel de homem da Igreja, pois diante de sua grande figura de pele rosada, reconhece-se o homem de fé que ali está, mesmo que sem a batina. É um padre sem dúvida, um padre que gosta de motos e de todo o clima que envolve este pequeno universo particular.



Sua vida entretanto iria sofrer uma guinada, até mesmo uma queda por assim dizer, não uma queda física no alcatrão como era de se supor, mas sim em forma de um cancro, um desvio na estrada que o conduziria ao interior de si próprio, fazendo-o questionar o inquestionável, sua fé, o dado adquirido tido como certo.
Um percurso que o levou aos Estados Unidos para um tratamento de quimioterapia na tentativa de travar a doença.
Por lá, entre tratamentos, celebra missas para a comunidade portuguesa e também para a sul americana.





O MOVIMENTO MOTARD
O fascínio pelas motas já vem desde a sua criação nos finais do século dezanove, sendo que os primeiros Motos Clubes nasceram na década de 50 do século vinte, na América. Aos poucos foram crescendo em números, até que pelos anos 70, este estilo de vida espalhou-se para o mundo, através, principalmente, de filmes como Easy Rider, que conta a história de dois membros da contra-cultura hippie no final dos anos 60, que saem de Los Angeles e atravessam o país até Nova Orleans. Estes personagens personificavam o pensamento da época entre os jovens que buscavam algo mais do que as alternativas que o sistema lhes oferecia. A motocicleta e o modo despreocupado de encarar a vida ficaram marcados como um dos símbolos da liberdade entre os jovens rebeldes da época. Este fenómeno cultural virou uma filosofia que até hoje é cultuado e vivido por milhares de pessoas no mundo inteiro.



Pode-se considerar que são um tanto "fúteis no que diz respeito aos seus conhecimentos e interesses, pois estes são quase que exclusivos a veículos, cerveja, tatuagens, mulheres… Entretanto há algo que transcende isto tudo, o sentimento de liberdade, de aventura e de prazer em conduzir e se deixar levar pelas sinuosidades das estradas secundárias, para encontrar-se em caminhos paralelos.
Em Portugal acontece todos os anos várias concentrações dos Motos Clubes pelo país, das quais destaca-se a de Faro no Algarve, que é reconhecida internacionalmente e atrai milhares de motards de todos os cantos da Europa.





O padre Zé Fernando, sempre que pode retorna à Portugal. Como já não possui paróquia, devido a licença para o tratamento, celebra missas por onde é requisitado e, algumas delas para os grupos motards, como é o caso desta comemoração do dia do motard.











No ano passado em uma vinda a Portugal, o padre acabou por sofrer uma fratura exposta na perna esquerda, que o obrigou a parar temporariamente com a quimioterapia. A partir daí passou a sentir-se, independentemente da fratura, cada vez melhor, com mais disposição e vontade. Foi fundamental esta energia acrescida, até para tirá-lo daquela rotina massacrante dos tratamentos.


Um padre sem dúvida, mas por debaixo da batina
encontra-se um motard.


Suas limitações foram por si compreendidas e aceites, e o que ficou foi uma enorme vontade de viver o que ainda há prá viver, um sentimento que supera todos os outros e, agora o que conta é o dia a dia, quase sem compromissos senão com os amigos, com sua crença em Deus e na vida.



Um homem que encara a morte de frente com um sorriso nos olhos, com a naturalidade de quem está bem consigo próprio, consciente deste dom maravilhoso que é estar vivo e que agradece cada novo amanhecer que lhe é concedido.
Sem ser funesto ele fala da morte com a simplicidade das questões resolvidas, na prática tomou as medidas necessárias e, agora a única coisa que lhe interessa é viver, sentir-se vivo, estar com as pessoas, falar, ouvir, rever velhos amigos e fazer novas amizades, e quando possível, fazer-se à estrada, não sem rumo como no Easy Rider, e sim com a convicção de quem se sente livre para viver todos os seus momentos.

3 comentários:

Unknown disse...

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo...........
Como me alegro com as suas palavras Padre Zé!
Deus o ajude sempre a viver com esse sorriso e com essa força, que chega até nós, como um exemplo de Amor e Gratidão por tudo o que Deus nos dá.
Um beijinho grande da alentejana
Joana Gaspar

paulo neto disse...

Boas ,ja tive o prazer de estar na companhia do padre Zé fernando num cafe que o convidei em oeiras ,é uma maravilha de pessoa com um dom de palavra fantastico ,em poucas palavras posso dizer que queria metade da força que ele tem para a luta terrivel que o tem acompanhado estes anos ,mas como nas ultimas palavras aqui ditas ele encara a vida de uma forma unica vive e da a viver e da a todos nós uma liçao fantastica como se deve viver a vida em alturas muito complicadas ,grande abraço ..
Paulo Neto
Pombos do Asfalto

Quim Martins disse...

É de facto um exemplo a seguir, sem o conhecer pessoalmente e vendo ontem a reportagem na TV fiquei com a certeza de se tratar de um homem de Deus com uma humildade e força de vida contagiante.
Rápidas melhoras!
Quim Martins- Idanha-a-Nova